Pequim, 20 dez (Lusa) - João Fernandes já passou várias vezes o Natal longe de Portugal, mas esta é a primeira vez que o faz na China, um país onde o número de cristãos não chega, oficialmente, a 2% da população.
"Na consoada, vou jantar com alguns amigos estrangeiros", conta o jovem natural de Lisboa, que desde há dois meses vive em Xi'an, a capital da província de Shaanxi, na região oeste do país asiático.
Comparado a Pequim e Xangai, metrópoles onde os convívios de natal entre os portugueses reuniram cerca de cem pessoas, a presença ocidental em Xi'an é ainda efémera.
"Há muitos chineses aqui que nunca viram um estrangeiro", ilustra João.
E quantos portugueses haverá por aí? "Ouvi dizer que há mais dois, mas não os conheci ainda", esclarece.
Os enfeites e as músicas de natal, que desde há várias semanas assinalam a quadra nas ruas, casas e espaços comerciais de Portugal, em Xi'an "também não existem".
"Aqui, o Pai Natal vou ser eu", ironiza o português, que no dia 25 de dezembro irá mascarar-se de "Velhote do Natal" ("Shengdan Laoren"), como o Pai Natal é literalmente chamado na China.
O objetivo é surpreender as crianças a quem ensina inglês numa escola local, em mais um de vários episódios inusitados que terá para contar após quase um ano a viajar pelo mundo.
João Fernandes começou a andar de moto ainda em miúdo, "na garagem do pai", mas seriam precisos muitos anos e trambolhões para cumprir um trajeto que, para já, o trouxe desde Portugal à China.
"Esta viagem acaba por ser quase o meu destino", diz, sobre os 21 países que percorreu nos últimos 10 meses, num percurso "decidido ao acaso".
Licenciado em Gestão pelo Instituto Universitário de Lisboa, em 2008, o jovem de 30 anos, adquiriu cedo o gosto por "aventuras" além-fronteiras.
Durante o curso, fez um intercâmbio no México, e, mais tarde, estagiou em Bucareste, na unidade local do grupo Sonae, ao abrigo do programa Inov/Contacto da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).
Mas foi só em 2012, já ao serviço de uma consultora em Lisboa, que decidiu "romper" com o modo de vida ocidental: "Percebi que não fui feito para trabalhar em corporações", recorda.
Partiu então para a Austrália, onde viveu dois anos: "Foi bom para melhorar o meu inglês e juntar uns trocos".
Os "trocos" serviriam para ressuscitar uma moto "lendária" dos anos 80 que João guardara em casa: uma Honda Africa Twin, um modelo de aventura "feito para atravessar as savanas e os desertos africanos".
"Abri a mota toda, peça por peça", conta sobre os seis meses que passou de fato-macaco.
No dia 4 de fevereiro deste ano, fez-se finalmente à estrada, percorrendo, numa primeira fase, a Europa, desde Portugal até aos miscigenados territórios do Cáucaso.
Pelo meio, apaixonou-se pela Albânia, "o local certo para procurar uma aventura dentro da Europa". Um outro amor foi Sarajevo: "As pessoas recebem sempre com um sorriso na boca".
Mas a "nota especial" vai para o Irão, onde ia para ficar um mês, mas acabou por ficar dois. Dali, seguiu para a Ásia Central.
"Uma pessoa pode ler sobre os países, mas até chegar lá é difícil imaginar o que se vai encontrar", diz o português sobre a região que se estende desde o leste do mar Cáspio ao Centro-Oeste da China.
No final de setembro, entrou finalmente no "gigante" asiático, onde se estabeleceu temporariamente, aguardando pelo fim do inverno, antes de seguir em direção à Rússia.
Não será um percurso tão longo como aquele que o Pai Natal terá de percorrer na madrugada do dia 25 de dezembro, mas para aquele português, este foi, certamente, um ano cheio de presentes inesperados.
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