O QUE ESPERAR DE GILLARD E DE BROWN?
O racismo e o xenofobismo vem subindo de tom e está a ser fator importante nas campanhas eleitorais em que os candidatos tiram vantagens e até são eleitos. Em caso não muito longínquo vimos isso em França com o candidato Sarkosy, que foi eleito e hoje é presidente da república. Hoje Sarkosy está em guerra declarada com os de raça cigana, como ainda continua com os muçulmanos, e mais, e os que tiverem de ser desde que lhe tragam apoios e vantagens eleitorais. Pouco se importa ele de ser racista e xenófobo. Porque havia de se importar se são os próprios eleitores que o escolhem, por eles próprios serem racistas e xenófobos. Até serão, se os exacerbarem… nazis - o que em França não deixa de ser uma imensa nódoa no hino e na bandeira, pelo menos. Eleger um presidente xenófobo e racista… Só um povo da mesma laia tem capacidade de o fazer. Digam o que disserem para negar, esta é a verdade e prova de que França, os franceses, já se esqueceram de quanto sofreram com o nazismo e quantos deles se sacrificaram a combatê-lo. Memórias curtas. Repetições históricas que começam através dos sintomas mais leves e acabam em exacerbos só vencidos depois de provocarem holocaustos. Para lá voltamos a caminhar.
Também na Austrália a sanha contra os estrangeiros floresce. Chamam-lhes refugiados, boat people, etc. Esquecem-se os australianos de “raça” que são estrangeiros naquela enorme ilha. Quererão regressar às origens por não serem oriundos daquelas paragens, por descenderem de bisavós condenados que eram nem mais nem menos que boat people que acostava à linda ilha continente? Se calhar, e pelos seus critérios, com o agravante de serem deportados devido a crimes praticados no reino de Inglaterra. Constata-se que os netos e bisnetos dos boat people de então, de súbditos mal comportados, afinal não estão pelos ajustes de agora se “misturarem” com os que aflitos dão às suas costas marítimas. Será porque não são loiros e de olhos azuis? Mas não há australianos de outras tez? Será um problema de raça? Racismo? A tendência será negar sempre, apesar das evidências? Evocam-se razões económicas, de salubridade (!) e é encontrada uma explicação cobarde e falsa. Como acontece em França… Até em Portugal já andam a fazer contas aos estrangeiros. Imaginem. É o começo de algo. De uma febre fascistóide.
No caso da Austrália, mas não só, se não fossem os boat people, os estrangeiros, nem existiria país daquele jeito e quem poria e disporia seriam os que já lá estavam quando desembarcaram os boat people, os achadores-colonizadores – primeiro portugueses (ver), muito depois ingleses, James Cook (ver).
Digamos que o citado atrás serve para trazer o tema Centro de Refugiados em Timor-Leste que decerto rendeu à primeira-ministra Gillard um bom número de votos. Qual conservadora, liberal ou neonazi disfarçada, Julia Gillard lembrou-se de enxotar para Timor-Leste os boat people que procuram refúgio no seu lindo, enorme e desértico país, alegando não se sabe bem o quê, mas ficando agora à vista que, com os votos obtidos, racismo e xenofobia estão na moda e sempre contribuem para os políticos serem eleitos. Claro que o conservador seu adversário Tony Abbott também mostrava as suas intenções xenófobas e racistas mas defendia a pretensão de meter os desgraçados refugiados noutra ilha que não Timor-Leste. Ia quase dar ao mesmo e alguns votos caíram nas urnas pelo seu cariz racista e xenófobo, mais um bocadinho e será nazi… Talvez lá chegue com o passar do tempo. Neste momento não está em questão se os refugiados devem ir para Timor-Leste ou para outra ilha. O que deve ser motivo bastante de preocupação é a demonstrada disposição dos governantes para se mostrarem racistas e xenófobos sem pruridos e alegando que é por interesse nacional, na defesa dos interesses dos eleitores. E os eleitores, bastantes, vão na conversa racista e xenófoba, sem sequer equacionarem a possibilidade de resolverem o assunto de outro modo, que inclua humanismo e nenhum xenofobismo ou racismo. Isso não acontece porque há eleitores realmente fascistas, racistas, xenófobos. Apologistas de que as pessoas mais carentes e de outras raças e países devem ser fechadas em campos de concentração a que chamam de refugiados… E ali vão ficando depositados em condições muitas vezes semi-bárbaras, apodrecendo.
Reza na história recente da Austrália que era um país acolhedor para com os imigrantes. Compreende-se, então precisavam deles para os serviços menores. Ou se eram quadros também convinham para contribuírem, todos eles, para o desenvolvimento do país. A Austrália perdeu qualidades, deixou-se contagiar pela doença da “moda” que regressa de vez em quando em crescendo: o racismo, o xenofobismo, que vai desembocar na intolerância, no nazismo. A última crise de holocausto foi há setenta anos. Foi vencida, mas desde então a ideologia tem vindo a crescer. Como é possível que isso aconteça na Austrália, um país tão vasto? O que nos é mostrado é deveras preocupante.
KEVIN RUDD, BOB BROWN E TIMOR-LESTE
Kevin Rudd foi provavelmente escorraçado também por ter tido a coragem de apresentar desculpas e pedir perdão aos aborígenes pelos maus tratos que os boat people, loiros e de olhos azuis, vindos sob condenação de Inglaterra, lhes infligiram - e continuam a infligir com sapiência e como quem não quer a coisa. Mas esquecem-se que esses são os verdadeiros australianos. Os originais. Os que lá estão há milénios. Destroçados mas são. E consciência para assimilar isso? É sempre difícil quando a sintomatologia é o racismo. Que por sua vez provoca a resposta. Revolta – contida ou não - e racismo da outra parte. Legitimamente esse é o sentir dos invadidos e oprimidos. No século XXI não seria de imaginar tal comportamento da Austrália. Não se esqueçam de se orgulharem de Kevin Rudd, ao menos por isso.
Bob Brown, do Green Party disse em entrevista à SBS, a Beatriz Wagner da secção falada e escrita em português, que o “multiculturalismo virou uma palavra suja quando John Howard virou primeiro-ministro, mas está vivo e actuante”. O líder dos Green’s está certo mas esquecido; outros primeiros-ministros australianos já vêm ensaiando e praticando há muito a cultura suja de que fala, esquecendo-se das suas proveniências e da sorte que tiveram em nascer na Austrália. O que não se pode dizer sobre os que já lá estavam quando o “english people from boats” acostaram pela primeira vez. Parece que os milenares “aborígenes australianos” tiveram imenso azar.
Brown, que é senador, afirma ainda na referida entrevista, de 7 de Agosto, que é contra o Centro de Processamento de Requerentes de Asilo em Timor-Leste. Nome pomposo, este, quando afinal é um campo de concentração para refugiados. Esse é mesmo o problema de sempre, não denominarem as suas “invenções” pelo verdadeiro nome, pelo que é ou vai ser. Centro de Processamento deixa tudo e todos (quase) descansados. “Mas qual racismo? Até estão num Centro de Processamento!” É preciso serem muito desonestos. E o senhor Brown, se é Verde e quer ser verdadeiro, tem de chamar os bois pelos nomes e não andar a assimilar as make-up que os Howards e Hitlers deste mundo criam para enganar todo o mundo, ou quase.
Acresce de tudo o que está para trás escrito e devidamente meditado que Bob Brown vai ter a grande oportunidade de demonstrar que fala verdade, pelo menos no que diz na referida entrevista a Beatriz Wagner. Após estas eleições, segundo os resultados eleitorais conhecidos, os Verdes estão em posição de se verem solicitados pela senhora Gillard para negociarem. Gillard está de pés e mãos atados e só não precisará dos Verdes se proceder a um encosto aos conservadores ou aos liberais (o que não é de excluir, de todo).
Assim, que brilhe o sol aos Verdes e que desse modo contribuam para que a política australiana não seja a cópia da longínqua França da atualidade - com deportações xenófobas e racistas.
Brown também tem afirmado ser a favor do gasoduto do Mar Timor ir em direção a Timor-Leste. Congratulemo-nos com este importante aliado. Aguardemos que assim demonstre. Não é difícil acreditar em Brown e na política proposta pelos Verdes australianos. Muito mais difícil é acreditar nos dirigentes timorenses quanto às promessas (que não passam disso) de tirarem o povo da miséria. E já lá vão tantos milhões de dólares sem que nada se veja de significativo e correspondente ao alegadamente aplicado no desenvolvimento. Só se for ainda mais desenvolvimento da miséria…
*Acesso à entrevista da SBS que foi referida AQUI, com texto e áudio (12 min.)
O racismo e o xenofobismo vem subindo de tom e está a ser fator importante nas campanhas eleitorais em que os candidatos tiram vantagens e até são eleitos. Em caso não muito longínquo vimos isso em França com o candidato Sarkosy, que foi eleito e hoje é presidente da república. Hoje Sarkosy está em guerra declarada com os de raça cigana, como ainda continua com os muçulmanos, e mais, e os que tiverem de ser desde que lhe tragam apoios e vantagens eleitorais. Pouco se importa ele de ser racista e xenófobo. Porque havia de se importar se são os próprios eleitores que o escolhem, por eles próprios serem racistas e xenófobos. Até serão, se os exacerbarem… nazis - o que em França não deixa de ser uma imensa nódoa no hino e na bandeira, pelo menos. Eleger um presidente xenófobo e racista… Só um povo da mesma laia tem capacidade de o fazer. Digam o que disserem para negar, esta é a verdade e prova de que França, os franceses, já se esqueceram de quanto sofreram com o nazismo e quantos deles se sacrificaram a combatê-lo. Memórias curtas. Repetições históricas que começam através dos sintomas mais leves e acabam em exacerbos só vencidos depois de provocarem holocaustos. Para lá voltamos a caminhar.
Também na Austrália a sanha contra os estrangeiros floresce. Chamam-lhes refugiados, boat people, etc. Esquecem-se os australianos de “raça” que são estrangeiros naquela enorme ilha. Quererão regressar às origens por não serem oriundos daquelas paragens, por descenderem de bisavós condenados que eram nem mais nem menos que boat people que acostava à linda ilha continente? Se calhar, e pelos seus critérios, com o agravante de serem deportados devido a crimes praticados no reino de Inglaterra. Constata-se que os netos e bisnetos dos boat people de então, de súbditos mal comportados, afinal não estão pelos ajustes de agora se “misturarem” com os que aflitos dão às suas costas marítimas. Será porque não são loiros e de olhos azuis? Mas não há australianos de outras tez? Será um problema de raça? Racismo? A tendência será negar sempre, apesar das evidências? Evocam-se razões económicas, de salubridade (!) e é encontrada uma explicação cobarde e falsa. Como acontece em França… Até em Portugal já andam a fazer contas aos estrangeiros. Imaginem. É o começo de algo. De uma febre fascistóide.
No caso da Austrália, mas não só, se não fossem os boat people, os estrangeiros, nem existiria país daquele jeito e quem poria e disporia seriam os que já lá estavam quando desembarcaram os boat people, os achadores-colonizadores – primeiro portugueses (ver), muito depois ingleses, James Cook (ver).
Digamos que o citado atrás serve para trazer o tema Centro de Refugiados em Timor-Leste que decerto rendeu à primeira-ministra Gillard um bom número de votos. Qual conservadora, liberal ou neonazi disfarçada, Julia Gillard lembrou-se de enxotar para Timor-Leste os boat people que procuram refúgio no seu lindo, enorme e desértico país, alegando não se sabe bem o quê, mas ficando agora à vista que, com os votos obtidos, racismo e xenofobia estão na moda e sempre contribuem para os políticos serem eleitos. Claro que o conservador seu adversário Tony Abbott também mostrava as suas intenções xenófobas e racistas mas defendia a pretensão de meter os desgraçados refugiados noutra ilha que não Timor-Leste. Ia quase dar ao mesmo e alguns votos caíram nas urnas pelo seu cariz racista e xenófobo, mais um bocadinho e será nazi… Talvez lá chegue com o passar do tempo. Neste momento não está em questão se os refugiados devem ir para Timor-Leste ou para outra ilha. O que deve ser motivo bastante de preocupação é a demonstrada disposição dos governantes para se mostrarem racistas e xenófobos sem pruridos e alegando que é por interesse nacional, na defesa dos interesses dos eleitores. E os eleitores, bastantes, vão na conversa racista e xenófoba, sem sequer equacionarem a possibilidade de resolverem o assunto de outro modo, que inclua humanismo e nenhum xenofobismo ou racismo. Isso não acontece porque há eleitores realmente fascistas, racistas, xenófobos. Apologistas de que as pessoas mais carentes e de outras raças e países devem ser fechadas em campos de concentração a que chamam de refugiados… E ali vão ficando depositados em condições muitas vezes semi-bárbaras, apodrecendo.
Reza na história recente da Austrália que era um país acolhedor para com os imigrantes. Compreende-se, então precisavam deles para os serviços menores. Ou se eram quadros também convinham para contribuírem, todos eles, para o desenvolvimento do país. A Austrália perdeu qualidades, deixou-se contagiar pela doença da “moda” que regressa de vez em quando em crescendo: o racismo, o xenofobismo, que vai desembocar na intolerância, no nazismo. A última crise de holocausto foi há setenta anos. Foi vencida, mas desde então a ideologia tem vindo a crescer. Como é possível que isso aconteça na Austrália, um país tão vasto? O que nos é mostrado é deveras preocupante.
KEVIN RUDD, BOB BROWN E TIMOR-LESTE
Kevin Rudd foi provavelmente escorraçado também por ter tido a coragem de apresentar desculpas e pedir perdão aos aborígenes pelos maus tratos que os boat people, loiros e de olhos azuis, vindos sob condenação de Inglaterra, lhes infligiram - e continuam a infligir com sapiência e como quem não quer a coisa. Mas esquecem-se que esses são os verdadeiros australianos. Os originais. Os que lá estão há milénios. Destroçados mas são. E consciência para assimilar isso? É sempre difícil quando a sintomatologia é o racismo. Que por sua vez provoca a resposta. Revolta – contida ou não - e racismo da outra parte. Legitimamente esse é o sentir dos invadidos e oprimidos. No século XXI não seria de imaginar tal comportamento da Austrália. Não se esqueçam de se orgulharem de Kevin Rudd, ao menos por isso.
Bob Brown, do Green Party disse em entrevista à SBS, a Beatriz Wagner da secção falada e escrita em português, que o “multiculturalismo virou uma palavra suja quando John Howard virou primeiro-ministro, mas está vivo e actuante”. O líder dos Green’s está certo mas esquecido; outros primeiros-ministros australianos já vêm ensaiando e praticando há muito a cultura suja de que fala, esquecendo-se das suas proveniências e da sorte que tiveram em nascer na Austrália. O que não se pode dizer sobre os que já lá estavam quando o “english people from boats” acostaram pela primeira vez. Parece que os milenares “aborígenes australianos” tiveram imenso azar.
Brown, que é senador, afirma ainda na referida entrevista, de 7 de Agosto, que é contra o Centro de Processamento de Requerentes de Asilo em Timor-Leste. Nome pomposo, este, quando afinal é um campo de concentração para refugiados. Esse é mesmo o problema de sempre, não denominarem as suas “invenções” pelo verdadeiro nome, pelo que é ou vai ser. Centro de Processamento deixa tudo e todos (quase) descansados. “Mas qual racismo? Até estão num Centro de Processamento!” É preciso serem muito desonestos. E o senhor Brown, se é Verde e quer ser verdadeiro, tem de chamar os bois pelos nomes e não andar a assimilar as make-up que os Howards e Hitlers deste mundo criam para enganar todo o mundo, ou quase.
Acresce de tudo o que está para trás escrito e devidamente meditado que Bob Brown vai ter a grande oportunidade de demonstrar que fala verdade, pelo menos no que diz na referida entrevista a Beatriz Wagner. Após estas eleições, segundo os resultados eleitorais conhecidos, os Verdes estão em posição de se verem solicitados pela senhora Gillard para negociarem. Gillard está de pés e mãos atados e só não precisará dos Verdes se proceder a um encosto aos conservadores ou aos liberais (o que não é de excluir, de todo).
Assim, que brilhe o sol aos Verdes e que desse modo contribuam para que a política australiana não seja a cópia da longínqua França da atualidade - com deportações xenófobas e racistas.
Brown também tem afirmado ser a favor do gasoduto do Mar Timor ir em direção a Timor-Leste. Congratulemo-nos com este importante aliado. Aguardemos que assim demonstre. Não é difícil acreditar em Brown e na política proposta pelos Verdes australianos. Muito mais difícil é acreditar nos dirigentes timorenses quanto às promessas (que não passam disso) de tirarem o povo da miséria. E já lá vão tantos milhões de dólares sem que nada se veja de significativo e correspondente ao alegadamente aplicado no desenvolvimento. Só se for ainda mais desenvolvimento da miséria…
*Acesso à entrevista da SBS que foi referida AQUI, com texto e áudio (12 min.)