O Presidente José Ramos Horta declarou há dias à Lusa a sua indignação contra a Amnistia Internacional por ter referido numa sua avaliação que existem em Timor-Leste cerca de 40 mil desalojados, vitimas dos incidentes de 2006.
Na época, quase duas centenas de milhares de vítimas viram as suas parcas habitações serem destruídas e incendiadas por grupos de jovens conotados com grupos de artes marciais ao serviço dos autores do golpe de Estado que entretanto se consumou e aterrorizou os timorenses da parte leste do país.
Indignado ou não, esquece-se o Presidente Ramos Horta que a Amnistia Internacional faz constar nos seus números os efectivamente deslocados e desalojados, os que tinham e agora ainda não têm casas próprias, mesmo que pobres e simples como as que já tinham em 2006 e foram destruídas pelos referidos incidentes.
Na realidade ainda existem algumas largas dezenas de milhares de desalojados deslocados e isso poderá ser constatado pelo senhor Presidente da República se, como deve, considerar que imensos dos que perderam as suas casas ainda não têm casa própria e vivem por favor em casas de familiares e amigos, não tendo como regressar às suas anteriores casas e localidades devido às faltas de apoio adequadas por parte do governo, que afinal é quem demonstrou ter o poder nas acções dos grupos de artes marciais.
Há coisas tão evidentes, parecendo que o senhor José Ramos Horta as está a querer escamotear, que depois dão origem ao seu crescente descrédito, nacional e internacionalmente, sobre o que diz e realmente faz. Não parece que seja da competência de um Presidente da República que se preze e seja honesto tentar encobrir a ineficiência dos organismos do Estado timorense relativamente ao problema dos deslocados. Muito menos que queira encobrir que nem todos os muitos milhares de deslocados e desalojados estão em campos como o de Metinaro, que tem cerca de 6 mil refugiados da sanha terrorista de 2006.
A este número muitos mais devem ser acrescentados, incluindo os que estão em terrenos de organismos estatais e, principalmente, os que continuam sem casas e sem regressar às suas localidades de origem. Enfim, muitos milhares que estão à espera que seja o governo a apoiá-los, conforme promete e diz que faz. Faz, mas ainda não fez a todos, se não falta o devido apoio a 40 mil, como a Amnistia dizia anteriormente, podemos ter a certeza absoluta que desalojados e deslocados ainda existirão em Timor-Leste uns 30 mil, aproximadamente, e isso o Presidente da República não tem o direito de escamotear.
Ao pretender fazer crer que Timor-Leste só tem 4 mil deslocados desalojados, o senhor José Ramos Horta mente. Falta saber se o faz somente porque está mal informado. Será muito bom que se documente devidamente, à margem dos serviços e informadores afectos ao governo. Melhor ainda se tivesse oportunidade de compreender sobre as verbas que são efectivamente entregues a título de subsídio às vítimas e aquilo que é lançado nas despesas do orçamento. Poderá não competir ao PR tal acção, mas já fez tantas que não lhe competiam. Inconfundivelmente, ao menos esta seria uma boa acção.