Hong Kong, China, 28 jan (Lusa) -- O controverso comediante francês Dieudonné M'bala M'bala, que tem sido condenado em França por comentários antissemitas, foi hoje detido à chegada ao aeroporto de Hong Kong, cidade onde tinha espetáculos agendados hoje e na sexta-feira.
O seu advogado, Sanjay Mirabeau, disse que Dieudonné ficou sete horas no aeroporto, depois de ter sido intercetado por agentes da imigração. A sua produtora, a Plume Productions, disse que ele poderia ser deportado.
Até à tarde de hoje (manhã em Lisboa) não eram conhecidos os motivos pelos quais Dieudonné foi detido ou as razões pelas quais poderia vir a ser deportado.
O jornal South China Morning Post informou que o comediante foi detido na sequência de queixas apresentadas pelos consulados francês e israelita em antecipação aos seus espetáculos.
Os serviços de imigração de Hong Kong disseram que não faziam comentários sobre casos individuais.
No entanto, num comunicado em resposta a questões sobre o caso, o mesmo departamento disse que estava "comprometido em manter um controlo efetivo da imigração, negando a entrada de indesejáveis".
Sanjay Mirabeau disse que não havia razões para o comediante ser detido.
"O seu novo espetáculo, 'In Peace', não tem nada contra a lei. Ele fala de plantas, de ecologia", afirmou o advogado.
A sua produtora afirmou que Dieudonné M'bala M'bala disse que ele estava detido com os filhos no aeroporto.
"Ele deverá ser deportado nas próximas horas", indicou a Plume Productions, em comunicado.
O consulado francês confirmou que Dieudonné, de 49 anos, tinha sido detido por agentes da imigração à chegada ao aeroporto de Hong Kong.
"É uma questão de implementar as leis de imigração relevantes para as autoridades de Hong Kong", disse um porta-voz do consulado à AFP.
O consulado acrescentou que não tinha pedido ao Governo de Hong Kong para evitar a entrada de Dieudonné na cidade.
Mas de acordo com fontes da polícia citadas pelo South China Morning Post, o consulado escreveu uma carta a manifestar preocupação sobre a visita do comediante, alertando que a mesma poderia desencadear "perturbações na ordem pública".
A cidade de Hong Kong tem uma numerosa comunidade francesa, com mais de 120.000 franceses residentes registados no consulado.
Dieudonné é conhecido pela sua 'quenelle', o gesto que é visto como uma saudação nazi invertida, mas que ele insiste que é meramente antissistema.
O humorista tem tido alguns problemas com a justiça na Europa.
Um tribunal belga condenou-o a dois meses de prisão em novembro por incitamento ao ódio por causa de alegados comentários racistas e antissemitas que ele terá feito durante um espetáculo na Bélgica.
No início do mês, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem proferiu uma sentença conta Dieudonné relativamente a outro caso, ao decidir que a liberdade de expressão não protege "atuações racistas e antissemitas".
Dieudonné estava a protestar contra uma multa aplicada por um tribunal francês em 2009 por convidar para o palco um indivíduo que nega a existência do Holocausto. Ele foi condenado a pagar 10.000 euros pelo que foi considerado pelo tribunal como "insultos racistas".
Em março, um tribunal francês também sentenciou Dieudonné a dois meses de pena suspensa e multou-o por apologia ao terrorismo, por alegadamente ter manifestado simpatia em relação aos ataques contra o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado judaico em Paris.
O comediante devia dar dois espetáculos hoje e amanhã no Hong Kong's Cyberport.
FV // VM - Lusa