Pequim, 20 jan (Lusa) - O embaixador da União Europeia (UE) em Pequim exortou hoje a China a permitir o acesso de diplomatas aos suecos Peter Dahlin e Gui Minhai, e ao britânico Lee Bo, que se encontram detidos pelas autoridades.
"Gostaríamos de ter um acesso completo e que haja total transparência", sublinhou Hans Dietmar Schweisgut, nunca conferência de imprensa que serviu para reiterar o "apoio total" da UE às autoridades suecas e britânicas nos contactos com Pequim.
Schweisgut notou a "profunda preocupação" que os casos de Gui e Lee, ambos com residência em Hong Kong, e Dahlin geraram na UE.
Peter Dahlin, cofundador da organização não-governamental (ONG) China Action e detido no início do mês, apareceu terça-feira na televisão estatal chinesa numa confissão considerada por membros da sua organização como "falsa" e "absurda".
A cadeia de televisão CCTV argumenta que Dahlin trabalhou na China como uma espécie de agente estrangeiro enviado por forças hostis, com o objetivo de minar o poder do Partido Comunista Chinês e atentar contra a segurança do Estado.
"Violei a lei da China com as minhas ações. Prejudiquei o Governo chinês e feri os sentimentos do povo chinês. Peço sinceras desculpas por tudo", afirmou Dahlin na gravação.
Por outro lado, Gui e Lee são dois dos cinco editores e livreiros desaparecidos misteriosamente nos últimos meses e célebres por vender obras críticas do regime comunista chinês em Hong Kong.
Ambos comunicaram recentemente aos seus familiares que estão na China, com Gui a surgir também na televisão estatal chinesa a confessar-se culpado pelo atropelamento e morte de uma jovem de 20 anos em 2003, na cidade de Ningbo, província chinesa de Zhejiang.
Defensores dos direitos humanos e familiares de Gui já disseram duvidar da veracidade da sua alegada confissão.
Schweisgut afirmou que para lá da questão dos direitos humanos, estes dois casos constituem uma flagrante violação do princípio "um país, dois sistemas".
De acordo com aquela fórmula, as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam em Hong Kong e Macau, (exceto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da competência do governo central chinês) e os dois territórios gozam de "um alto grau de autonomia".
O diplomata assinalou que estes dois casos, somados à recente expulsão da jornalista francesa Ursula Gauthier por um artigo sobre os conflitos na região do Xinjiang, nordeste da China, abrem um "precedente extremamente preocupante".
E referiu a "séria inquietude" da UE com a aprovação da nova lei sobre ONG estrangeiras a operar na China, e que limitará as suas atividades, nomeadamente o financiamento oriundo do exterior e a contratação de efetivos.
As relações entre a UE e Pequim atravessam um período "muito bom" em questões envolvendo política externa e comércio, ressalvou o embaixador, lembrando que nem por isso a parte europeia deixará de manifestar a sua posição nestes casos.
"Não podemos, nem iremos ficar calados", concluiu.
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