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As mulheres que desarmaram um jato 'Hawk' que Londres ia vender à Indonésia

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Díli, 21 nov (Lusa) - As quatro mulheres que a 29 de janeiro de 1996 entraram na fábrica da British Aerospace em Warton, em Lancashire, tiveram que chamar elas próprias a polícia para dizer que tinham destruído um jato Hawk destinado à Indonésia.

Esse protesto sem precedentes tornou-se ainda mais importante quando, meses depois, foram ilibadas por um júri de vários crimes e de danos de 2,4 milhões de libras, ficando conhecidas como as 'Ploughshares Four'.

O que fizeram, argumentaram, não foi um crime porque "agiram para prevenir que a British Aerospace (BAe) e o Governo britânico apoiassem e fossem cúmplices de genocídio", no caso, o que estava a ser cometido pela Indonésia em Timor-Leste.

A história marcou o ativismo político no Reino Unido sobre Timor-Leste, chamou a atenção para o apoio militar internacional à Indonésia e deu ainda mais fama ao movimento dos "Ploughshares".

Especialmente ativo durante a década de 80 do século passado, o Movimento Ploughshares (Arado) era um movimento pacifista antinuclear, maioritariamente cristão, que realizava implicando normalmente danos a instalações militares ou armamento.

O nome do movimento inspira-se na profecia do profeta Isaías, que disse que Deus regressará à Terra e convencerá os povos, que "das suas espadas forjarão relhas de arados e das suas lanças, foices".

Neste protesto de 1996, o alvo da fúria das quatro de Warton - Andrea Needham, Joanna Wilson, Lotta Kronlid e Angie Zelter - foi o Hawk ZH955, um avião de formação que deveria ser fornecido à Indonésia num pacote de 23 jatos vendidos ao Governo de Suharto.

Com martelos e outros instrumentos, incluindo um alicate de cortar metal, partiram instrumentos, danificaram a fuselagem do avião e causaram 2,4 milhões de libras de danos.

"Para transformar espadas em arados o martelo tem que cair", escreveram, a branco, nos punhos vermelhos do cortador de metal que deixaram ao lado do avião. Coladas no 'cockpit' deixaram imagens do massacre de Santa Cruz, em Dili e várias frases de protesto.

Depois de vários anos de trabalho, Andrea Needham tem finalmente pronto o manuscrito em que conta a sua história do protesto de Warton, intitulado "The Hammer Blow" (O Golpe do Martelo) que deverá ser publicado no 20.º aniversário da ação, em janeiro do próximo ano.

"Desarmei o Hawk porque já tinha feito até então tudo o que podia para impedir que estas armas chegassem à Indonésia. Com milhares de outros já tinha feito protestos, escrito cartas, petições, distribuído brochuras, organizado vários eventos de ações não violentas", conta Needham.

"Nada funcionou e os aviões estavam prestes a ser entregues à Indonésia para uso em Timor-Leste. Nessa situação, com o nosso Governo a ajudar no genocídio, que poderíamos ter feito se não desarmar nós próprias as armas", disse.

As ativistas entraram no complexo da fábrica e danificaram grande parte dos instrumentos do avião, avaliado em cerca de 12 milhões de libras.

Quando terminaram, explicam, tentaram chamar a atenção dos seguranças e chegaram mesmo a pôr-se a dançar no campo de visão das câmaras de segurança, tudo sem efeito.

"Foi uma sensação fantástica, dançar de noite fora de um hangar onde tínhamos acabado de desarmar um avião", disse Andrea Needham durante o julgamento.

Já fartas, e porque o objetivo era chamar a atenção para o protesto, telefonaram para o escritório da agência Press Association em Londres e pediram a um jornalista que informasse a gestão da BAe do que tinham feito.

As equipas de segurança só chegaram ao local às 05:00 da manhã, mais de duas horas depois de entrarem.

Foram presas - ficaram detidas seis meses à aguardar julgamento - e no tribunal (onde poderiam ser condenadas a penas de 10 anos de prisão -- e argumentaram que tinham agido porque queriam evitar que o avião fosse usado contra a população de Timor-Leste.

Até à decisão do júri de Liverpool, nenhum dos inúmeros ativistas do Movimento Ploughshares envolvido nas 55 ações realizadas até então tinha sido ilibado num tribunal.

"A batalha das pombas e dos falcões", como um jornalista do The Guardian a descreveu na altura, foi considerada um triunfo da justiça e uma vitória do movimento de desarmamento.

ASP // APN

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