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Indústria do jogo de Macau "não vai voltar a ser o que era" -- especialista

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Macau, China, 02 out (Lusa) -- O especialista do jogo Muhammad Cohen considerou que o setor em Macau "não vai voltar a ser o que era", a propósito da queda das receitas dos casinos da região em setembro para o valor mais baixo em cinco anos.

Para Cohen, um dos editores da revista Inside Asian Gaming e colaborador da revista Forbes, que habitualmente analisa o setor do jogo em Macau, "o antigo mercado", assente nos designados "jogadores VIP" (grandes apostadores) e de sucessivos recordes, não vai voltar e não se vislumbra fim à tendência descendente, enquanto as operadoras não se adaptarem a uma nova realidade.
Segundo dados oficiais divulgados hoje, em setembro, os casinos de Macau tiveram receitas brutas de 17.133 milhões de patacas (1.917 milhões de euros), uma queda de 33% face ao período homólogo de 2014 e o valor mais baixo desde setembro de 2010.

"O antigo mercado de Macau não vai voltar, o mercado VIP não vai voltar a ser o que era. Os casinos continuam a fazer muito dinheiro, mas é muito menos [que no passado] e vai continuar a ser muito menos", disse à Lusa o especialista.

Os casinos de Macau, que chegaram a gerar uma receita de 38 mil milhões de patacas (4,2 mil milhões euros) em fevereiro de 2014, registaram em setembro o 16.º mês de quedas sucessivas, mesmo depois de previsões que apontavam para que o segundo semestre deste ano seria de retoma ou, pelo menos, estabilização.

Na base destas previsões estava a expetativa de que dois novos projetos - Galaxy e Studio City -- viessem a impulsionar o setor, mas mesmo com a abertura de um deles em maio, não houve sinais positivos.

A campanha anticorrupção da China não dá sinais de abrandamento e continua, para o especialista, a ser o principal fator a inibir os grandes apostadores de irem a Macau.

No entanto, salientou que a cidade também não foi ainda capaz de se adaptar, ou seja, de se focar no setor de massas.

"Os chineses viajam cada vez mais para o estrangeiro e querem visitar outros sítios, ver outras coisas. Vão ao Japão, vão à Coreia. Querem jogar mas também querem fazer outras coisas. Macau não tem um plano B. [As receitas do setor VIP] eram fruta ao alcance da mão, apanharam-na e agora que não há mais, ninguém está pronto a subir à árvore", criticou.

É preciso oferecer "coisas novas e entusiasmantes" que tornem Macau atraente para o jogador médio, acrescentou, considerando ser "difícil dizer se abrir 'resorts' novos é suficiente".

"Não tenho visto sinais de grandes ajustes [das operadoras de jogo]", afirmou Cohen, ressalvando que o Studio City, que abrirá no final deste mês, anunciou um hotel de quatro estrelas, mais acessível à classe média.

Questionado sobre a possibilidade de este abrandamento ser propositado -- uma forma de, a par de combater a lavagem de dinheiro, arrefecer uma economia pautada por incessantes subidas no imobiliário e inflação --, o especialista hesitou.

"[Se foi propositado] passaram das marcas. Uma coisa é arrefecer a economia, outra coisa é ter o PIB a cair com a taxa mais elevada do mundo. Fala-se que o Governo chinês gostava de ver o crescimento de Macau mais alinhado com o crescimento da economia da China. Mas isso talvez quisesse dizer crescimento a um dígito, agora, estamos a ver contração a dois dígitos", considerou.

No primeiro semestre do ano, o PIB de Macau caiu 25,4% em termos reais.

Por outro lado, para Cohen, o Governo de Macau "tem pouca margem para operar".

Se estes dois fatores não se alterarem -- adaptação do setor ou introdução de políticas pelo Governo --, Cohen não prevê um fim próximo para a tendência descendente das receitas do jogo em Macau.

"Não há grandes motivos para termos esperança, a não ser que algo dramático aconteça: um novo projeto, uma atração nova, um espetáculo ou então grandes mudanças nas medidas políticas", concluiu.

ISG // VM

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