Díli, 15 mai (Lusa) - Ver o desfecho da 1.ª Liga de Futebol portuguesa, já madrugada de segunda-feira em Díli, foi uma aventura com ligações piratas à Internet, um restaurante de tavirenses e o 'delay' que deixou sportinguistas a celebrar golo do Benfica.
Sem o jogo a ser transmitido por qualquer das televisões que chegam a Timor-Leste, a única solução para os timorenses foi recorrer à pirataria informática e à internet, um projetor e ao acolhimento do Toy e da Lena Conceição, o casal de Tavira, que este ano abriu "O Tavirense" em Díli.
No silêncio de início da madrugada de Díli - uma cidade que vive mais intensamente a liga espanhola e a rivalidade Barça-Madrid do que propriamente a liga portuguesa - a única agitação visível era mesmo na rua 30 de agosto - o dia assinala o referendo histórico de 1999 em que os timorenses escolheram a independência.
Ligações à internet muito fracas, devido à velocidade de rede que existe diariamente em Díli, e outras dificuldades tecnológicas chegaram a fazer temer que nem se ia conseguia ver o jogo.
Mas pouco parecia importar ao grupo que se concentrou para ver o jogo, numa madrugada regada com a portuguesa cerveja Super Bock e a indonésia Bintang e onde não faltaram moelas e pão com chouriço.
Na prática, ver o jogo só começou a ser possível lá para o minuto 26, e o som só começou a ser audível ao minuto 50, quando alguém foi "lá a casa" buscar umas colunas.
Cedo se percebeu a divisão das claques: no interior, a grande maioria benfiquista, no exterior uma mão-cheia de camisolas verdes e brancas, algumas do SCP (Sporting Clube de Portugal) e uma até do Sporting Clube de Timor (SCT).
E também se perceberam as divisões das tecnologias: os que insistiam em vibrar apenas com as imagens - que iam parando, de vez em quando - e os que seguiam pelos telemóveis, em páginas de jornais 'online' ou em transmissões de rádio.
O que ajudou a criar grandes confusões no restaurante, especialmente porque o 'delay' chegava a ser de seis ou sete minutos.
Isso significou que, por exemplo, os sportinguistas celebrassem o que pensavam ser o seu segundo golo mas era, na prática, o segundo golo do Benfica e que os Benfiquistas celebraram o 4-0, quando na verdade já o nacional marcava o 4-1.
Entre as celebrações, os anfitriões, em Timor-Leste desde 2012 - imigraram à aventura e com vontade de abrir um restaurante - iam servindo as mesas cheias mas, ao mesmo tempo, preparavam as fornadas de bolas de pão que daqui a umas horas farão chegar à Escola Portuguesa de Díli.
"Foi complicado começar. Já passámos fome em Timor. A coisa não correu bem no início mas agora, finalmente, parece estar a correr bem", confessa Lena Conceição.
O casal veio para um projeto que não correu bem, depois deram vida ao Sport Dili e Benfica mas, quando a renda ficou mais cara, optaram por abrir "O Tavirense", um negócio seu onde contam "com o apoio dos nossos clientes regulares".
"Isto é complicado, é preciso dinheiro e muita papelada. E foi muito difícil no início. Agora está a correr melhor", disse Toy explicando que já emprega oito timorenses.
As saudades apertam, admite Lena, que recorda a distância e o custo em visitar Portugal.
Uma distância que foi hoje de seis ou sete minutos. O tempo do 'delay'.
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