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Ex-agente de cooperação em Timor-Leste queixa-se de "abandono" pelo Instituto Camões

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Díli, 19 abr (Lusa) - Um ex-agente da cooperação do Instituto Camões em Timor-Leste queixou-se à Assembleia da República dos procedimentos daquela entidade, a quem acusa de o ter abandonado no terreno perante "situações de extrema gravidade".

"Fui abandonado pelo Camões, que nunca me respondeu a nenhuma mensagem, mesmo quando estavam em causa situações de extrema gravidade que comprometiam seriamente os resultados do projeto [que foi coordenar em Timor-Leste] e a própria imagem do Estado português", disse à Lusa Pedro Brinca, primeiro subscritor da petição "Queixa sobre procedimento do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P.", que a comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros hoje aprecia.

Pedro Brinca foi contratado pelo Camões para coordenar um projeto de apoio à Rádio e Televisão de Timor-Leste (RTTL) e diz que esteve um ano a trabalhar "sem que o projeto fosse aprovado", o qual acabou por ser abandonado "sem que tenha sido concluído um único objetivo".

"Cheguei a ouvir recomendações da embaixada de que devia deixar de chatear o Camões. Devia receber o ordenado e ir para a praia", afirmou.

Numa nota enviada à Lusa, o Instituto Camões (IC) informou que a RTLL solicitou "a não renovação do contrato" o que implicou o fim do projeto depois de uma "relação deteriorada" entre a entidade timorense e o agente da cooperação.

Em julho de 2015, explica a nota, a RTTL informou a embaixada portuguesa de "que havia proibido o Dr. Pedro Brinca de a representar e que tinha perdido a confiança no Agente de Cooperação (AC), o que denotava a relação deteriorada a que se tinha chegado".

"No entanto, optou-se por deixar terminar o contrato, o que aconteceu em final de setembro de 2015, não tendo ocorrido por isso a renovação do vínculo contratual", explica.

Segundo o Camões, houve também uma relação "conflituosa" entre Pedro Brinca e o outro agente da cooperação contratado para o projeto, "de tal forma" que o instituto "terminou antecipadamente o contrato" deste último.

"A embaixada desenvolveu variadíssimos esforços no sentido de evitar este desfecho convocando os dois agentes de cooperação para vários encontros, procurando uma solução de consenso, sobretudo pela repercussão negativa da imagem de Portugal e da Cooperação Portuguesa. Após a resolução do primeiro problema, quando julgávamos que o projeto teria condições para finalmente avançar, fomos confrontados com a comunicação da RTTL veiculada pela embaixada", sublinha a mesma nota enviada à Lusa.

O IC explica ter informado repetidamente Pedro Brinca de que teria de resolver os seus assuntos com o embaixador em Díli já que os agentes da cooperação "atuam na dependência funcional do chefe da missão diplomática, a quem reportam".

Pedro Brinca diz que o projeto começou logo mal com o outro agente da cooperação, assessor técnico do projeto, a causar conflitos na RTLL e a não o aceitar como coordenador.

"Comecei logo a enviar mails para o Camões a explicar a situação que ficaram sempre sem resposta", disse Pedro Brinca.

O ex-agente diz que a situação se agravou e chegou a ser ameaçado fisicamente pelo colega de trabalho, algo que deu a conhecer quer ao Camões e à Embaixada de Portugal em Díli "mas que também ficou sem resposta".

Pedro Brinca queixa-se ainda de ter sido alvo de "ataques profissionais constantes" na RTTL, que lhe pediu, por exemplo, para apresentar prova de que era coordenador do projeto, informação que solicitou ao IC e que nunca lhe foi enviada.

Perante esta situação, garante que ficou "surrealmente" quase sem interlocutores: proibido de falar com o IC diretamente, que o remeteu para a embaixada que, por sua vez, o informou não ter nada para lhe dizer.

"É uma situação completamente surrealista. Mandam para cá um coordenador, em quem confiam, porque passei um processo de seleção com júri, e depois simplesmente deixam de o apoiar no terreno", sublinhou.

"Ao fim de um ano nunca responderam a uma única pergunta e quando terminou o contrato disseram que não me respondiam porque já não havia vínculo contratual", acrescentou.

Segundo Pedro Brinca, "o sentimento de abandono no terreno é comum a muitos agentes do IC em vários pontos do planeta".

"O importante é dar um relatório no final. O único que conta para o IC é ter lá o relatório final", insistiu.

ASP // MP

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