O Prémio Nobel da Paz (1996), José Ramos-Horta (JRH), esteve com a comunidade timorense residente na Inglaterra para uma palestra sobre “Timor-Leste, Desafios pós-independência: Do sonho à realidade”, num encontro informal que se realizou à margem do Festival do Sudeste Asiático organizado pelo Centro de Estudos Asiáticos da Universidade de Oxford e que o ex-governante timorense foi um dos convidados em destaque. JRH mostrou comoção, na sua página do Facebook, após o encontro com os timorenses:
"Na Universidade de Oxford. Foram quatro dias, um em Londres e três em Oxford. Hoje foi a palestra inaugural do 5º Simpósio de Estudos do Sudeste Asiático. (…) Durante a minha curta estadia em Oxford, encontrei-me com muitos Timorenses. Fiquei muito comovido com a forma tão calorosa como reagiam ao verem-me. Todos eles e elas trabalham duro e enviam a maior parte do dinheiro ganho para as suas famílias. Almas generosas." (…)
Nesse encontro, que o Global Voices esteve presente, Ramos-Horta começou por dizer que Timor-Leste tem “evoluído e acompanhado a evolução normal do tempo”, o que é positivo para um país que sofreu para conquistar a independência. Em termos de investimento para o futuro, começando pelo sector da educação, JRH fala que o Governo tem apostado na nova geração ao enviar os jovens para o estrangeiro afim de estudarem. O Nobel da Paz apela aos timorenses, que estão espalhados pelo mundo, para “não se esquecerem de Timor”:
"Trabalhem e estudem, mas voltem, porque Timor precisa de vós!”.
Timor-Leste está a mudar
José Ramos Horta acredita que o país está em franca expansão ao dizer que está muito diferente, em relação do que era há quinze anos atrás, dando como exemplo a evolução das vias rodoviárias e do fornecimento de eletricidade. JRH lembra que em 1999, o último ano da ocupação indonésia, Timor-Leste tinha 19 médicos e em 1975, o último ano da governação Portuguesa, tinha apenas uma dentista e que estava em Portugal. “Hoje Timor tem quase 1000 médicos timorenses”, declara o diplomata. “Infelizmente as áreas que não têm tido a devida atenção são o Turismo e a Agricultura”, acrescenta.
"Nós não estamos a investir sabiamente para fazer Timor-Leste tornar-se auto-suficiente em segurança alimentar e ganhar mais atracão turística!"
A disputa da fronteira marítima com a Austrália
Recentemente, a Austrália disse a Timor-Leste que “basta de conversações sobre o Mar de Timor” em reacção ao caso da disputa da fronteira marítima que Timor-Leste fez recentemente chegar às Nações Unidas sob a forma de um “Procedimento de Conciliação Obrigatória (PCO)“. O PCO é um processo que vai obrigar as duas partes a sentarem-se à mesa de negociações perante um painel independente de especialistas que, por sua vez, vão ajudar a alcançar um parecer amigável entre as partes.
José Ramos-Horta declara ao Global Voices que o ex-primeiro ministro, Xanana Gusmão, e o atual Governo tem como prioridade a renegociação da fronteira marítima com a Austrália. E lembra que, conforme um parecer de Xanana Gusmão, a Austrália não agiu de boa fé referindo-se ao “escândalo das escutas“. No entanto mostra-se preocupado pois mesmo que a Austrália aceite renegociar, ainda vai levar tempo até à sua conclusão. O diplomata dá como exemplo o impasse entre a Rússia e Noruega que levou longos anos a resolver.
A comunidade queixa-se da representação diplomática de TL no Reino Unido
Os timorenses que participaram no encontro manifestaram vontade em ajudar o seu país. Querem enviar ajuda como material escolar para as crianças mas sentem uma enorme dificuldade em comunicar com a representação diplomática de Timor-Leste, no Reino Unido. Carlos Aparício, estudante na Universidade de Brooks, diz:
Timor tem uma representação em Londres, e nós temos a necessidade de comunicar com o Governo, mas infelizmente nunca temos resposta”.
José Ramos-Horta lamentou as dificuldades que os timorenses na diáspora têm sentido e prometeu fazer chegar todas as preocupações e questões levantadas no encontro às entidades timorenses.
Dalia Kiakilir– Global Voices
Imagem em TA: José Ramos-Horta em Oxford, 11 de Abril 2016. Foto: Dália Kiakilir/GlobalVoices