Díli, 29 fev (Lusa) - O Comité Central da Fretilin, segundo partido timorense, acusou hoje o chefe de Estado, Taur Matan Ruak, de criar "instabilidade política" e querer "dividir para reinar" com a declaração que fez no Parlamento Nacional na semana passada.
"Com a ida do senhor Presidente ao Parlamento Nacional esperava-se uma intervenção mais prolongada e esclarecedora sobre a exoneração do general Lera Anan Timur [chefe das forças de Defesa], feita por ele próprio. Era isso que o país esperava", disse hoje o presidente da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente), Francisco Guterres Lu-Olo.
"Não foi isso que aconteceu. Como tal, parece-nos haver uma tentativa de desvio das atenções para outros assuntos. Foi uma estratégia de diversão para evadir-se das suas responsabilidades constitucionais", afirmou.
Em conferência de imprensa, em que leu um comunicado do Comité Central do partido, Lu-Olo, que foi o primeiro presidente do Parlamento Nacional, considerou que o discurso do chefe de Estado foi "uma tentativa de instabilidade política" que "tem como finalidade imediata e a médio prazo querer dividir para reinar".
Na quinta-feira, o chefe de Estado criticou, no Parlamento Nacional, lideres timorenses como Xanana Gusmão (à frente do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste, CNRT), Lu-Olo e Mari Alkatiri, da Fretilin, contestando igualmente a aproximação entre as duas forças políticas.
"Apelo ao senhor Presidente: não divida. Seja chefe de Estado digno das suas responsabilidades", afirmou hoje Lu-Olo.
Timor-Leste vive em tensão política em torno da decisão do Presidente da República sobre o comando das forças de Defesa (F-FDTL), que não seguiu a proposta do Governo, que defendia uma renovação dos mandatos em curso.
O chefe de Estado decidiu exonerar o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), o major-general Lere Anan Timur, e nomear como seu sucessor o brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus.
Manifestando "total discordância e insatisfação" pelo discurso de Taur Matan Ruak, o líder da Fretilin recordou hoje que o chefe de Estado é o "símbolo da unidade nacional e não um elemento gerador de instabilidade política que poderá ter consequências a nível nacional".
Lu-Olo insistiu que a unanimidade dos últimos anos entre as forças com representação parlamentar pretende "travar o esbanjamento de verbas (...) e não a aquisição de privilégios", como tinha acusado Taur Matan Ruak.
"É notório o relacionamento saudável entre os dois maiores partidos, bem como os seus líderes, que a todo o custo o senhor Presidente tenta destabilizar", disse Lu-Olo.
Na sua intervenção, Lu-Olo questionou se o Presidente da República "pretenderá criar uma crise institucional entre os dois maiores partidos" de Timor-Leste ou "causar alguma desordem na casa dos outros para não olhar para a sua própria casa ou partido", numa referência à possibilidade de Taur Matan Ruak ser candidato nas eleições legislativas de 2017.
"Quais são os objetivos do senhor Presidente? Tem o senhor Presidente consciência do erro que cometeu?", questionou.
Lu-Olo disse ainda que o seu partido não decidiu se, depois de findo o mandato do Presidente, que acaba com a imunidade de que goza, avançará ou não com alguma queixa contra Taur Matan Ruak.
"O Presidente da República tem imunidade mas ninguém admite que qualquer pessoa se esconda atrás da imunidade para insultar as pessoas", disse.
"Isto não foi um discurso e muito menos uma mensagem de um chefe de Estado à nação. O Presidente da República falhou uma oportunidade e usou um local inapropriado para fazer uma mensagem política a favor do seu próprio partido", afirmou.
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