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Ministro Xanana Gusmão recorda tentativas da Austrália ficar com recursos do Mar de Timor

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Díli, 29 fev (Lusa) -- O ministro do Planeamento e Investimento estratégico timorense, Xanana Gusmão, tornou pública esta semana uma carta que enviou em 1988 ao senador australiano Gordon McIntosh em que acusa Camberra de se apropriar dos recursos timorenses no Mar de Timor.

Xanana Gusmão é o negociador principal nomeado pelo Governo para liderar as negociações sobre as fronteiras marítimas com a Austrália, processo que Camberra não aceita iniciar.

A carta foi divulgada numa altura em que Timor-Leste quer reatar as negociações com Camberra para delimitar as fronteiras marítimas, processo que o Governo australiano não quer retomar, como disse hoje à Lusa o primeiro-ministro timorense Rui Maria de Araújo.

Na carta, que enviou de Timor-Leste em abril de 1988 enquanto líder da resistência timorense à ocupação indonésia, Xanana Gusmão apelou ao apoio de McIntosh - hoje com 91 anos e que esta semana visita Díli a convite do Governo timorense - para intervir junto do seu partido para alterar a política relativamente a Timor-Leste.

Xanana Gusmão escreveu em 1988 que qualquer tentativa da resistência timorense de encontrar uma solução justa, que terminasse com as violações dos direitos humanos em Timor-Leste, que repusesse o direito internacional, embarraria na "improcedente negativa do Governo australiano considerar a luta timorense sob um prisma positivo".

"Não esperamos por isso mesmo nenhuma alteração na atitude do Governo do senhor Bob Hawke", escreveu, referindo-se ao então primeiro-ministro australiano.

Xanana Gusmão, que entregou cópias da carta à agência Lusa e aos jornais timorenses, considerou ainda que a política australiana da altura assentava em "três eixos doutrinais", entre os quais a "pactuação com Jacarta no emprego da força para alcançar objetivos políticos de uma estratégia comum".

Bob Hawke queria ainda "salvaguardar os interesses económicos da Austrália em detrimento dos princípios que um país democrático advoga" e ambicionava "a exploração do petróleo e gás natural no mar sul de Timor-Leste, escreveu Xanana Gusmão.

Remetida do Conselho Revolucionário da Resistência Nacional da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), a carta definia a política australiana como sendo, já nessa altura, "pró-Timor Gap", numa referência à postura de defender a partilha dos recursos do Mar de Timor.

Díli insiste que se a lei do mar de Timor for aplicada, a maior parte dos recursos já detetados na região ficam em águas timorenses não devendo por isso ser partilhados com Camberra.

"Tudo leva a crer que a política australiana com relação a Timor-Leste foi determinada pela oferta indonésia de exploração conjunta do Timor Gap. Lembramos ao Governo australiano que a sua concordância é já por si um ato de roubo e a exploração por parte da indonésia um ato de explorações", escreveu Xanana Gusmão.

A carta datilografada de 10 páginas foi remetida por Xanana Gusmão a McIntosh a 10 de abril de 1988 através de Agio Pereira, na altura um dos elementos da resistência externa na Austrália e hoje ministro de Estado e porta-voz do executivo timorense.

O destinatário da carta, McIntosh, de 90 anos, foi uma das maiores vozes de apoio a Timor-Leste dentro do Partido Trabalhista Australiano (ALP), quase sempre enfrentando toda a liderança.

Em março de 1975 efetuou a sua primeira visita a Timor-Leste, na altura integrando uma delegação do 'caucus' do ALP.

Em 1982 discursou, em nome de organizações australianas, no Comité de Descolonização das Nações Unidas, combatendo diretamente a tentativa do então primeiro-ministro australiano, Gough Whitlam, que pretendia tirar Timor-Leste da agenda da ONU.

Foi membro e posteriormente responsável do Comité Permanente de Negócios estrangeiros e Defesa do Senado australiano que em 1982 e 1983 conduziu uma investigação alargada sobre Timor-Leste.

Em 1983 fez parte da delegação parlamentar australiana que visitou Timor-Leste, escrevendo na altura uma posição dissidente do relatório final da comissão, o que condicionou as tentativas do primeiro-ministro trabalhista Bob Hawke diluir o tema timorense na política externa australiana.
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