Díli, 25 fev (Lusa) - O líder da bancada do maior partido timorense, CNRT, Natalino dos Santos, acusou hoje o Presidente da República de usar o parlamento nacional para "insultos sem cabimento" a líderes históricos do país e para "fazer campanha".
"Queríamos ouvir ideias, procurar soluções, mas o Presidente utilizou este espaço público para fazer campanha. Usou o parlamento para dizer coisas sem cabimento", afirmou Natalino dos Santos, chefe da bancada do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT).
Natalino dos Santos confirmou à Lusa que as bancadas parlamentares deverão reagir às declarações de Taur Matan Ruak numa sessão plenária na segunda-feira.
O responsável do partido mais votado em Timor-Leste reagia à intervenção hoje no Parlamento Nacional do chefe de Estado, Taur Matan Ruak, que comparou os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão, Mari Alkatiri e Lu-Olo têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.
"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse o chefe de Estado.
"O irmão Xanana [ex-primeiro-ministro e atual ministro] toma conta de Timor, o irmão Mari toma conta de Oecusse. Eu fico triste. E este vírus está a espalhar-se. O princípio básico da democracia é a confiança. Sem isso a democracia não funciona", disse Taur Matan Ruak.
Timor-Leste vive um momento de crise política em torno da decisão do chefe de Estado sobre o comando das forças de Defesa (F-FDTL), que não seguiu a proposta do Governo, que defendia a renovação do mandato de Lere Anan Timur.
O chefe de Estado referiu-se brevemente a esta questão no seu discurso de hoje, defendendo a sua posição, mas a maior parte do discurso foi reservado para ataques a líderes históricos do país, ao Governo e ao parlamento nacional.
Natalino dos Santos confirmou à Lusa hoje que o seu partido mantém a intenção de avançar com um processo contra o Presidente da República por violação das suas obrigações constitucionais que, caso avance, poderá levar à destituição de Taur Matan Ruak.
Para que este processo avance falta ainda que seja publicado no Jornal da República o decreto presidencial 3/2016, datado de 09 de fevereiro, em que Taur Matan Ruak confirma a sua decisão de alterações na chefia das Forças Armadas.
O responsável parlamentar do CNRT disse que a bancada esperava que Taur Matan Ruak tivesse usado o discurso de hoje para defender e justificar a sua decisão sobre alterações no comando das forças de defesa, mas que em vez disso fez declarações "sem cabimento".
"O discurso do Presidente não tem cabimento neste problema. O problema é a exoneração, mas o discurso à nação não foi sobre esta questão mas para fazer insultos pessoais aos líderes do nosso partido e da Fretilin", afirmou à Lusa.
Intervindo a seu pedido no Parlamento Nacional, Taur Matan Ruak recordou um diálogo do início deste mês com o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo.
"Eu lamentei que familiares e amigos do irmão Xanana e do irmão Mari tenham beneficiado tanto dos contratos do Estado. O senhor primeiro-ministro perguntou-me se eu queria fazer inspeção", disse.
"Eu disse-lhe que não. Que estava apenas a falar do descontentamento que se sentia sobre os privilégios. Com o Suharto também acontecia", disse.
Natalino dos Santos criticou sobretudo esta comparação com Suharto, "um insulto e um ataque pessoal" particularmente grave por "vir de alguém que conhece Xanana Gusmão desde o tempo da guerrilha".
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