Jacarta, 06 fev (Lusa) - O brasileiro James Huang lançou, no final do ano passado, um megaprojeto de produção de carne bovina na Indonésia, que deverá permitir reduzir as importações indonésias de cabeças de gado em 30 por cento.
"A Indonésia precisa de muito gado. Importa mais de 600 mil cabeças por ano. Se conseguirmos fornecer um terço desse montante, estaremos satisfeitos. Acredito que, com o apoio que temos do governo e com a fé que os investidores têm na nossa empresa, isso é bem possível", disse à Lusa o empresário de descendência taiwanesa.
O quarto país mais populoso do mundo, com cerca de 250 milhões de habitantes, é também o maior país muçulmano, o que agrava o problema da falta de carne bovina, dado que o Islão proíbe o consumo de carne de porco.
"É um negócio que possui um potencial de crescimento enorme e é uma ótima oportunidade pelo preço da carne, pelo momento que a Indonésia está a passar e é por isso que os investidores acreditam tanto neste projeto", destacou o filho de pecuários no Brasil.
Desde que surgiu a ideia, em 2010, a empresa de James Huang, a Asiabeef, recolheu "10 milhões de dólares para este negócio" (9,2 milhões de euros) junto de "investidores privados asiáticos", mas a ideia é chegar aos 100 milhões de dólares (91,98 milhões de euros).
Em dezembro, a empresa iniciou o processo de criação de gado numa fazenda com 5000 hectares em Sumba, uma ilha na Indonésia Oriental.
"A terra é do governo legalmente dizendo, mas as comunidades locais têm direitos tradicionais. "Como eles acreditam que a terra é deles, temos de dar à comunidade muitos benefícios para eles aceitarem a empresa", contou, acrescentando que neste momento a Asiabeef está a apoiar cerca de 500 famílias.
Esse apoio, exemplificou, passa por formação sobre técnicas pecuárias, remédios e vacinas, com vista a "desenvolver a pecuária local" e, consequentemente, "a qualidade de vida das pessoas".
"É claro que nós buscamos o lucro, mas também é bom devolver algo à comunidade. Precisamos muito do suporte deles, pela questão da segurança local, pela questão dos trabalhadores", realçou.
A Indonésia, "como país em subdesenvolvimento", descreveu, "ainda há uma corrupção muito intrínseca no governo", logo, há funcionários públicos que não fazem as suas obrigações ou demoram a fazê-las, "esperando um apoio financeiro", para além de existir bastante burocracia.
O processo de licenciamento "demorou dois anos" quando poderia "ser resolvido em seis meses", exemplificou, frisando que, "como brasileiro, é bem desafiador começar uma empresa do zero aqui".
Rejeitar a corrupção é também uma forma de defender a "imagem da empresa, porque a partir do momento em que você se torna um ATM [caixa automática], será sempre visto como um ATM", vincou.
Neste caso, o processo foi facilitado por ter o apoio do Presidente indonésio, Joko Widodo, a quem James Huang tem ajudado a estabelecer "políticas para tornar o país autossuficiente" neste setor.
A Asiabeef tem também investido em infraestruturas, como estradas, porque a "logística na Indonésia é bem complicada" e as promessas do executivo para melhorar os acessos ainda não saíram do papel.
"Precisamos importar gado da Austrália para criar essa primeira cria, mas a nossa ideia é também cruzá-lo com gado local, porque o gado local já está adaptado", disse.
Este negócio surge numa altura em que o Brasil luta contra a proibição de exportar carne bovina para a Indonésia, um embargo em vigor desde 2009 devido aos critérios indonésios relativos à febre aftosa, que impedem todo o país de exportar para aquele mercado asiático, apesar de a doença estar confinada a uma região brasileira.
Na visão de alguns, "é uma questão bem difícil", porque há informações de que "existe um ?lobby' muito grande e interesses do governo da Austrália e da associação de produtores da Austrália para manter este banimento", porque hoje em dia "a Indonésia praticamente importa só da Austrália", referiu o empresário.
Para além da área da pecuária, o grupo tem uma concessão de um "bloco de petróleo" no país, acrescentou o brasileiro, que não perde uma oportunidade para falar português e que sente saudades da cultura e da gastronomia do país onde nasceu.
"A Indonésia tem muitas oportunidades hoje em dia. É muito mais subdesenvolvida em relação aos países ocidentais. Mesmo comparando a Indonésia ao Brasil, a Indonésia está, pelo menos, uma ou duas décadas atrasada em termos de prestação de serviços, de produção, educação e até política", comentou.
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