Na véspera de Stephen Lee Bun-sang atravessar a nave da Catedral e tomar em mãos os destinos da Igreja local, o PONTO FINAL procurou perceber de que modo a ligação do novo bispo à Opus Dei poderá influenciar a actuação do prelado e impulsionar a presença da instituição em Macau.
Toma amanhã posse da diocese de Macau o bispo Stephen Lee Bun-sang. Membro da Opus Dei desde 1978, a chegada do sacerdote de 60 anos poderá representar um reforço da instituição na RAEM, que actualmente conta com 20 a 25 elementos. Entre as diferentes figuras contactadas pelo PONTO FINAL, há quem entenda que a ligação do bispo à prelatura pessoal pode ajudar a profissionalizar o funcionamento da Igreja e contribuir para uma aproximação aos fiéis.
“Em si mesma, não penso que a Opus Dei vá influenciar muito. O seu propósito é servir a Igreja. A Opus Dei ensina os seus membros a trabalhar muito bem profissionalmente. Penso que essa abordagem é muito importante para a Igreja”, refere José Mandía. O sacerdote, também ele membro da “Obra de Deus”, fundada em 1928, entende que algo pode mudar na administração da Igreja, e concretiza: “Pode ajudar a profissionalizar a forma como fazemos as coisas, de modo a funcionar melhor, de forma mais suave. E pode contribuir para a introdução de mais trabalho de caridade”, defende.
O também director do semanário “O Clarim”, revelou que a Opus Dei conta actualmente em Macau com “20 a 25 membros”, e assumiu: “Somos poucos. Espero que a vinda do bispo traga mais membros para Macau”. Um bispo oriundo de Hong Kong, de quem o sacerdote está próximo há muito tempo: “Conheço-o muito bem há muitos anos. Tem boa formação em Arquitectura, que pode trazer para a Igreja. É um homem de oração, muito espiritual. É uma pessoa que gosta muito de estar cá fora, em contacto com as pessoas. Tem muita iniciativa, acho que é por ser arquitecto, gosta de construir pontes com as pessoas”, sublinha.
Também no padre Luís Sequeira, há 40 anos em Macau, se evidencia a expectativa e o desejo de renovação, com a chegada de um novo responsável máximo pela condução da fé católica no território. Recusa, contudo, a influência da ligação à prelatura iniciada por Josemaría Escrivá de Balaguer: “Há um espírito primeiro da Igreja, independentemente de se ser salesiano, franciscano, jesuíta, da Opus Dei ou o que quer que seja. O que significa para nós é uma liderança espiritual que ultrapassa os carismas próprios de cada movimento, ordem ou congregação. É uma liderança espiritual, apostólica e eclesial de que muito necessitamos neste momento, uma vez que o anterior bispo começava a dar sinais de uma certa fragilidade”.
Para o jesuíta, impõe-se uma transformação numa diocese que considera estagnada: “É preciso reactivar a estrutura de comunhão de uma diocese bem formada. Penso que a sua formação em Direito Canónico lhe permitirá ver com mais clareza toda essa estrutura que é necessário ser montada. Os diversos serviços, comissões, que é necessário pôr a mexer, porque há muitos anos têm estado estagnados”.
Francisco Vizeu Pinheiro centra nas características do homem, e não na prelatura, o futuro da diocese: “Cada instituição da Igreja tem o seu próprio carisma. Penso que todas elas podem dar um grande contributo para a riqueza e diversidade espiritual dentro da Igreja Católica. O espírito sopra de onde quer. O futuro não depende tanto da instituição a que pertence mas das suas próprias virtudes pessoais, do profissionalismo no exercício do seu cargo, e da obediência ao espírito santo, que depende muito da vida interior de cada cristão”, salienta.
Para o arquitecto, que é também membro da Opus Dei, “o que é importante na Igreja é que não se pode fechar em si mesma, é estar aberta ao mundo”. Vizeu Pinheiro não crê que a “Obra de Deus” vá crescer em Macau com a vinda do novo bispo: “A Opus Dei cresce com bispos ou sem bispos, porque a vocação é muito pessoal e o espírito da Opus Dei é ajudar os cristãos a santificarem-se no meio do seu trabalho profissional, no meio do mundo. A Opus Dei é um caminho para a pessoa chegar a ser santa no meio do mundo”.
Sobre Stephen Lee, fica uma impressão: “Ele já tem trabalho feito, tem muita experiência, e penso que será bom para Macau e para a China”, conclui o urbanista.
S.G. – Ponto Final