Évora, 20 jan (Lusa) -- O antigo Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, defendeu hoje que a Europa tem de "acelerar" o acolhimento dos refugiados e que "é importante" que não vire "as costas" a esta onda migratória.
"O importante é que não virem as costas àqueles que procuram refúgio na Europa" e que criem "condições para que eles se sintam bem-vindos" e possam integrar-se a sociedade, disse Ramos-Horta.
O antigo chefe de Estado timorense falava à agência Lusa, em Évora, após participar numa conferência sobre cooperação e desenvolvimento sustentável, em que discursou sobre "Cooperação: Liberdade, Justiça e Paz no Mundo".
A atual vaga migratória para a Europa foi um dos temas que abordou e, questionado pela Lusa, Ramos-Horta comentou o anúncio da União Europeia (UE) da recolocação, até agora, de 322 refugiados em 10 dos 28 Estados-membros, ao abrigo do mecanismo acordado por chefes de Estado e do Governo da UE para acolher 160 mil pessoas.
Trata-se de um número que "surpreende, mas também em parte não, por causa dos medos, da burocracia existente" na UE, disse o Prémio Nobel da Paz de 1996.
Ramos-Horta reconheceu que, neste processo, é necessário "um certo escrutínio", mas considerou que "é muito pouco" o total de 322 migrantes recolocados.
"Tem que ser acelerado porque estamos a falar de milhares de mulheres e de crianças" e, quanto mais demora [se verificar] nos campos na Turquia e nos lugares de espera e de processamento, mais abusos e traumas essas crianças" sofrem, o que "vai afetar o seu crescimento" e a forma "como percecionam a Europa", afirmou.
Segundo o antigo Presidente da República timorense, a Europa enfrenta "um dilema" devido a esta onda migratória, que ainda apor cima acontece "num período de grande depressão económica", mas tem de "saber gerir esta situação".
"É fácil criticarmos os europeus" por "não terem coração", mas "o desafio maior" que se coloca aos líderes na UE, "primeiro, é terem uma política comum" para os refugiados e "convencerem uma Polónia ou uma Hungria", países do leste que "nunca tiveram relações históricas com países em desenvolvimento", a "aderirem a esse espírito da solidariedade europeia", afirmou.
Os líderes europeus, defendeu, devem também "reinventar ou inventar políticas e mecanismos" para "absorver esta vaga de refugiados", cuja "esmagadora maioria é genuína" e formada por pessoas que "fogem da extrema pobreza e dos conflitos".
"Não tenham medo dos imigrantes e dos refugiados", alertou Ramos-Horta, lembrando que "um dos sucessos dos Estados Unidos", tal como de outros países pelo mundo, é o facto de ser "um país de imigrantes".
"Os imigrantes e refugiados não causam desemprego, não causam pobreza. Eles inventam emprego e criam um restaurante ou outro negócio, quando não conseguem encontrar trabalho numa fábrica. Podem ser uma mais-valia, sobretudo numa Europa envelhecida e que precisa de mão-de-obra", sustentou.
O debate desta manhã na Universidade de Évora intitulou-se "Cooperação e Desenvolvimento Sustentável: Rumo a um Mundo Melhor", organizado pelo polo da cidade alentejana do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova.
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