Díli, 13 jan (Lusa) - O vice-ministro das Finanças timorense, Helder Lopes, disse hoje que o executivo está a acompanhar as quedas no preço do crude nos mercados internacionais, explicando que as flutuações têm pouco impacto nas contas públicas timorenses.
"O Governo está preocupado, mas da riqueza petrolífera de Timor-Leste, dos dois campos que estamos a explorar, só 10% está ainda no solo sendo que os restantes 90% se transformaram já em ativos financeiros, nomeadamente no Fundo Petrolífero", explicou em entrevista à Lusa.
"Por isso, a volatilidade nos preços, nomeadamente as quedas, só afeta 10% do crude que está ainda por explorar", sublinhou.
Recorde-se que na sua análise para o Orçamento do Estado para este ano o Governo timorense já se refere à volatilidade dos preços, ainda que as estimativas de receitas petrolíferas sejam baseadas num preço de referência de 64,7 dólares por barril em 2016, valor que é quase o dobro do atual.
O Governo prevê que excluindo juros, as receitas petrolíferas destes dois campos - Bayu-Undan e Kitan - rondem os 718,7 milhões de dólares este ano, valor que será significativamente afetado pela queda no preço do crude.
Isso condicionará o dinheiro que é injetado no Fundo Petrolífero e, como tal, as receitas do próprio fundo para os anos seguintes.
Helder Lopes falava à Lusa numa altura em que o preço do crude voltou a cair, chegando a hoje a negociar abaixo dos 30 dólares por barril, antes de recuperar depois para cima dessa barreira.
Analistas, porém, apontam a que o preço pode ainda cair mais, podendo descer até aos 20 dólares por barril, afetado por questões como a apreciação do dólar norte-americano, a menor procura - inclusive por um inverno menos frio na Europa - e pela desaceleração da economia.
Os analistas referem ainda que o mercado está a penalizar os produtores que não ajustaram a produção que continua elevada, apesar da queda de preços.
Helder Lopes explicou que o Governo está a analisar todos estes dados e que a sua estratégia assenta agora em dois pilares: a diversificação do investimento do Fundo Petrolífero e a diversificação da economia em si.
"Queremos mais retorno do Fundo Petrolífero porque entendemos que a receita dos campos está a cair, devido à menor produção e aos preços, e por isso estamos a rever a estratégia de investimento para conseguir um maior retorno", explicou.
No final do terceiro trimestre do ano passado - os últimos dados disponíveis - o Fundo Petrolífero tinha um valor de 16,44 mil milhões de dólares, menos 420 milhões do que no trimestre anterior, segundo o Banco Central timorense.
Segundo o Banco Central, o fundo registou nesse período um rendimento de investimento negativo de -450,94 milhões de dólares, com um retorno da carteira do fundo de -2,61% e um retorno do 'benchmark' para o mesmo período de -2,70%".
Em termos mais amplos, e reconhecendo este contexto no setor, explicou Helder Lopes, o Governo continua a querer diversificar a economia timorense, algo que passa pelo setor privado e que obriga o executivo a manter os investimentos.
"A estrutura do orçamento mostra que a maioria dos gastos é para infraestruturas e para desenvolvimento do capital humano. Diversificar a economia depende do setor privado e conseguir isso obriga a ultrapassar os problemas que afetam o investimento em Timor: infraestruturas e a produtividade laboral", afirmou.
"Por isso, continuamos a aposta nas infraestruturas e no capital humano para criar condições para atrair o investimento, assim diversificar a economia e assim conseguir outras fontes de receitas públicas", sublinhou.
O Governo, explicou, mantém uma política fiscal anti cíclica, ou seja "que não liga o orçamento diretamente à receita petrolífera" o que implica que "se houve mudança nas receitas de petróleo isso não afeta diretamente o orçamento, para conseguir mais estabilidade".
"O Fundo Petrolífero serve para isso, como escudo dessa volatilidade", disse ainda.
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