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Ministério Público de Macau vai discutir regresso de magistrados com Portugal

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Macau, China, 15 dez (Lusa) -- O Ministério Público de Macau disse hoje que vai abordar com as autoridades portuguesas a questão do regresso a Portugal de magistrados por não renovação da licença especial ao abrigo da qual exercem funções na região chinesa.

"Com base no regulado pela Lei de Bases da Organização Judiciária e Estatuto dos Magistrados, o Ministério Público de Macau irá discutir este assunto atempadamente com Portugal", segundo uma resposta escrita enviada à agência Lusa.

"Considerando a relação histórica entre Macau e Portugal, são bem-vindos os magistrados de Portugal para virem trabalhar em Macau", acrescentou.

A resposta do Ministério Público de Macau surge depois de, na semana passada, o jornal Hoje Macau ter publicado um artigo, segundo o qual o Ministério Público de Portugal "está a exigir aos magistrados que regressem ao país", não lhes renovando a licença especial para exercerem no território, mantendo as regalias do vínculo à administração portuguesa.

Segundo o MP de Macau, atualmente há quatro magistrados do MP de Portugal a prestar serviço na região administrativa especial chinesa, tendo dois deles já regresso agendado para Portugal: um no final deste ano e outro em agosto de 2016.

O Estatuto dos Magistrados de Macau refere que para o provimento nas categorias de magistrados judiciais ou do Ministério Público é necessária "a titularidade de licenciatura em Direito legalmente reconhecida e o domínio do ordenamento jurídico de Macau" e que podem "ser convidados magistrados judiciais estrangeiros em quem concorram os requisitos necessários".

Além disso, refere que "são contratados por um período de dois anos os candidatos que sejam magistrados de quadros estranhos ao de Macau".

Em declarações à Lusa na sexta-feira, o presidente da Associação dos Advogados de Macau confirmou que há menos licenças emitidas e renovadas por Portugal para magistrados e funcionários públicos exercerem funções em Macau, o que considerou "um desastre" para a presença portuguesa na região.

"A identidade de Macau passa também pelo sistema jurídico, que é único. Este sistema só pode funcionar se tiver portugueses. Não quer dizer que tenha a maioria, não é uma questão de quantidade, mas tem de ter portugueses. Não há razão nenhuma para se falar português nos tribunais se não houver magistrados portugueses. Não é só por causa dos advogados, [que] não têm força suficiente", vincou.

Para o presidente da associação dos advogados de Macau, a medida do Conselho Superior do Ministério Público de Portugal causa "uma grande pressão para acabar com o uso da língua portuguesa nos tribunais" do território e argumentou que as manifestações culturais de matriz portuguesa que perduram "são iguais em todo o mundo" e que "isso não é identificativo de Macau".

"O sistema identitário da região é o sistema jurídico, porque é único -- não é igual ao da China, de Taiwan, ou de Hong Kong -- e é um sistema jurídico muito mais próximo do português do que qualquer um", acrescentou.

"É um dano muito grande. (...) Mesmo que em Portugal haja falta de magistrados, e admito que haja, não faz sentido nenhum porque não são seis ou sete magistrados que vão colmatar as falhas de dezenas ou centenas", afirmou.

FV // MP

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