Hong Kong, China, 11 dez (Lusa) -- O gigante chinês da Internet Alibaba anunciou hoje que vai comprar o jornal de Hong Kong South China Morning Post, garantindo que manterá a objetividade da publicação, face a receios de que poderá perder a sua voz independente.
A compra ocorre após semanas de especulação sobre o futuro do jornal, escrito em inglês, e de preocupação sobre se se tornará um porta-voz do governo de Pequim.
A preocupação com a liberdade de imprensa em Hong Kong tem crescido após ataques a jornalistas, relatos de pressões das autoridades sobre os editores e uma cada vez maior autocensura.
Alibaba "alcançou um acordo definitivo para adquirir o South China Morning Post [SCMP] e outros ativos na comunicação social" do mesmo grupo, anunciou a empresa chinesa, numa declaração.
O conceituado jornal foi fundado em 1903 e tem garantido aos leitores internacionais uma perspetiva interna de Hong Kong e da China, mas os lucros e as vendas têm sido afetados, nos últimos anos, por um declínio geral no setor.
A confiança dos leitores também caiu, com uma linha editorial mais favorável ao governo chinês a ser notada, quando dezenas de milhares de pessoas protestavam nas ruas, no ano passado, contra a interferência de Pequim.
Analistas defendem que a ligação ao Alibaba irá aumentar a presença na Internet do SCMP, mas pode piorar a sua independência editorial.
Numa carta dirigida aos leitores após o anúncio da venda, o vice-presidente executivo da Alibaba, Joe Tsai, prometeu que o jornal será "objetivo, preciso e justo" e terá "a coragem de ir contra a sabedoria convencional".
Num artigo de perguntas e respostas publicado na página na Internet do South China Morning Post, Tsai acusa os meios de comunicação ocidentais de preconceito contra a China.
"Muitos jornalistas que trabalham nestas empresas de comunicação social ocidentais podem não concordar com o sistema de governação na China e isso mancha a sua visão sobre a cobertura. Nós vemos as coisas de forma diferente, nós acreditamos que as coisas devem ser apresentadas tal como elas são", declara.
No entanto, o analista político Willy Lam considera que é difícil acalmar as preocupações sobre independência editorial.
"As pessoas têm boas razões para estarem céticas, simplesmente por causa do passado de Jack Ma e do grupo Alibaba", disse o professor universitário de Hong Kong à agência France Presse, recordando que Ma e a empresa são "muito próximos" da liderança de Pequim.
"É difícil imaginar que ele irá tolerar artigos críticos que possam ter um reflexo negativo no Partido Comunista ou no sistema político chinês em geral", disse Lam, que foi editor da secção da China do jornal desde 1989 até 2000, quando foi demitido.
O antigo jornalista diz que as suas opiniões críticas sobre a política chinesa levaram ao seu despedimento.
Hong Kong tem um estatuto semiautónomo após ter sido devolvido à China pela Grã-Bretanha em 1997, e mantém uma liberdade que não existe no território continental.
No entanto, há receios de que estas liberdades estejam a desaparecer, particularmente após as grandes manifestações do ano passado em Hong Kong e a rejeição da reforma política chinesa em junho, numa censura sem precedentes a Pequim.
"Há indícios de uma nova política do governo chinês, que procura aumentar o controlo sobre Hong Kong através de maior propriedade de meios de comunicação daqui pela China continental -- duas das quatro estações de televisão têm importantes acionistas que são negócios chineses e esta tendência vai aumentar", disse.
Ma fundou o Alibaba em 1999 e, sob a sua liderança, tornou-se a maior empresa de comércio 'online' da China, gerindo a plataforma de consumidor-para-consumidor Taobao, que domina mais de 90% do mercado da China continental.
A empresa cresceu para outras áreas de negócio e comprou a ChinaVision Media em 2014, que passou a chamar-se Alibaba Pictures, a maior produtora de filmes chinesa, que produziu, este ano, o sucesso de bilheteira "Missão Impossível -- Nação Secreta".
JH // EL