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EUA deviam pedir desculpa a Timor-Leste pela invasão indonésia - Lopes da Cruz

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Jacarta, 05 dez (Lusa) -- Os Estados Unidos deviam pedir desculpa pela invasão de Timor-Leste em 1975, porque pressionaram o então Presidente indonésio, Suharto, a fazê-lo, disse o antigo vice-governador do território Francisco Lopes da Cruz.

"A Indonésia invadiu Timor por causa da ideologia comunista que queriam implementar lá, sobretudo naquele tempo em que em Portugal, o governo era totalmente comunista", disse, questionado sobre se a Indonésia deveria pedir desculpas aos timorenses.

A saída de Portugal, que enfrentava um atribulado processo de descolonização, abriu espaço a uma guerra civil entre a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e a União Democrática Timorense (UDT), que levou à proclamação unilateral da independência a 28 de novembro pela Fretilin, de tendência marxista.

Dois dias depois, a UDT assinou a "Declaração de Balibó" defendendo a integração do território na Indonésia e solicitando "medidas imediatas no sentido de proteger as vidas das pessoas que ora se consideram elas próprias como parte do povo indonésio vivendo sob o terror e práticas fascistas da Fretilin consentidas pelo governo de Portugal".

Francisco Lopes da Cruz frisou que a Indonésia, um arquipélago de 17.000 ilhas, não tinha ambições sobre Timor-Leste, que ocupa apenas metade de uma ilha, e nem o petróleo na região justificaria a invasão, dado que o gigante asiático nem sequer está a explorar todas as suas jazidas.

"A Indonésia entrou em Timor em 07 de dezembro e dois dias antes estiveram de visita oficial à Indonésia o Presidente [Gerald] Ford e o secretário de Estado, Henry Kissinger", recordou Lopes da Cruz, antigo presidente da UDT.

Os Estados Unidos, continuou, tinham acabado de perder a guerra contra o Vietname e, em plena guerra fria, não queriam mais um foco de comunismo na região.

"A Indonésia não podia ofender os Estados Unidos que ajudaram na sua independência (...) A própria Indonésia em (19)65 sofreu uma hecatombe grande aqui com a revolução comunista. Com isto tudo, a Indonésia forcou-se a ir a Timor", acrescentou.

O governo indonésio tem sido igualmente pressionado a abordar o assassinato de entre 500 mil a um milhão de indonésios durante a luta anticomunista dos anos 1960, um massacre para o qual os Estados Unidos contribuíram ao fornecerem listas dos líderes comunistas aos indonésios envolvidos nas purgas.

Na visão do antigo conselheiro dos últimos cinco presidentes indonésios, se os EUA pedissem desculpas pela ocupação de Timor-Leste, seriam um país "com mais valor", porque mostraria que "sabem reconhecer também as suas fraquezas".

"Todos nós temos culpas no cartório. Portugal teve culpa porque não encaminhou como deve ser o processo de descolonização e deixou a ilha de Timor (...) A Indonésia porque invadiu Timor sem primeiro estudar as suas consequências (...) Os próprios timorenses também têm de pedir desculpas uns aos outros", acrescentou.

Mais do que pedir desculpas "como uma formalidade, que não vem do coração", aquilo que Portugal tem feito ajudando o pequeno território "é uma atitude muito boa", respondeu, quando questionado se Portugal também deve um pedido de desculpas aos timorenses.

Contudo, considerou o homem que perdeu "dois irmãos antes da entrada da Indonésia, mortos pelos nossos timorenses" e que tentou "fazer uma espécie de reconciliação entre todos" enquanto ocupou o cargo de vice-governador pouco depois da invasão, é preciso "esquecer o passado e andar para a frente".

Lopes da Cruz entende que se a Indonésia tivesse optado por "uma solução sem ser a invasão, seria muito melhor", podendo hoje ter "um nome muito melhor no mundo".

"Talvez eles quisessem seguir os passos da Índia, com Goa, Damão e Diu", que foram retiradas a Portugal numa intervenção militar, "mas o tiro saiu pela culatra", referiu.

A Indonésia é hoje o principal parceiro comercial de Timor-Leste e os dois países têm relações bilaterais amigáveis com Jacarta a apoiar a antiga colónia portuguesa em diferentes áreas, embora nunca tenha chegado a Díli um pedido formal de desculpas.

ANYN // EL

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