Timor-Leste ainda está a edificar e consolidar do Estado, o que se reflete também nas áreas da Cultura e da História, que estão a dar os primeiros passos, defendeu ontem o escritor timorense Luís Cardoso.
Numa entrevista à agência Lusa, em Lisboa, Luís Cardoso lembrou que a independência de Timor-Leste, a 28 de novembro de 1975, teve "intervalos" - com a ocupação indonésia -, que "inviabilizaram naturalmente" o espaço cultural, nas suas várias vertentes, e da História do país.
"Já se pode falar numa cultura timorense, mas ainda passa muito pela identidade e diversidade cultural, ainda em construção. Estamos a dar os primeiros passos na consolidação dessa identidade cultural", sustentou o autor, natural de Cailaco, no distrito de Bobonaro, onde nasceu a 08 de dezembro de 1958.
"Estamos a começar. São 40 anos, em que parte deles foi vivido durante o tempo da resistência, o que não permitiu às pessoas com arte e engenho ter disponibilidade para escrever, pois muitas delas foram dizimadas", salientou, realçando que as portas estão abertas para que tal aconteça.
Salientando que a experiência dos outros países lusófonos irá ajudar Timor-Leste nessa tarefa, Luís Cardoso, que não pensa, para já regressar definitivamente a Timor-Leste por razões familiares e de saúde, insistiu na ideia de que o país é ainda "uma criança", que necessita de tempo para crescer.
"Estamos a escrever. Cada um tomou as suas notas, foi buscá-las ao baú das memórias. Acredito que, em breve, possam aparecer aqui para o público, livros, histórias, memórias de timorenses sobre este tempo de luta", disse, lembrando Xanana Gusmão ou de Taur Matan Ruak, cujos depoimentos serão "importantíssimos".
Para o autor de "O Ano em que Pigafetta Completou a Circum-Navegação" (2013), a elite timorense "ainda está a ocupar o tempo" na política, na educação, nas universidades ou nas empresas, necessitando de se esperar mais um pouco para que tenha disponibilidade para refletir sobre o passado, embora também já exista uma nova geração que está interessada em escrever sobre o país.
Segundo Luís Cardoso, que recusa o epíteto de "referência" da literatura" timorense, há muitos jovens que estão a começar a escrever, tanto em português como em tétum, a quem falta um pouco mais de divulgação por parte da comunicação social local, lusófona e internacional.
A língua portuguesa, acrescentou, está a implantar-se aos poucos, sobretudo entre os jovens, em Timor-Leste - "há muita gente que fala muito bem o português e tem muito orgulho nisso" -, fruto da cooperação a esse nível entre Lisboa e Díli, mas o caminho ainda é longo.
"Provavelmente, não iremos falar o português de Portugal, mas o português de Timor-Leste, com todas as nuances que tem o imaginário timorense. Por exemplo, «boca do mar», em tétum, é «praia» em português. Porque não transmitir essas metáforas todas para a Língua Portuguesa? Em vez de dizer «vou à praia» porque não «vou à boca do mar». É muito mais doce", exemplificou.
"Será uma espécie de língua franca. O português falado, não o escrito, será sempre uma língua franca em Timor-Leste. Temos um compasso, uma respiração, uma maneira diferente de dizer e utilizar as palavras da de um português", sublinhou.
Luís Cardoso considerou que seria "sempre um mau ministro em qualquer parte do mundo" e que recusaria um qualquer cargo governamental na área da cultura, disse, "por uma questão de identidade pessoal", optando por se manter como escritor enquanto a crítica literária for boa.
O autor iniciou os estudos em Timor-Leste e completou-os em Portugal após o 25 de abril de 1974, não tendo presenciado a guerra civil e a invasão e ocupação indonésias, e formou-se em Silvicultura no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa.
Além de "O Ano em que Pigafetta Completou a Circum-Navegação", Luís Cardoso é autor de "Crónica de uma Travessia" (1997), "Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo" (2001), "A Última Morte do Coronel Santiago" (2003) e de "Requiem para o Navegador Solitário" (2007).
SAPO TL com Lusa
"Já se pode falar numa cultura timorense, mas ainda passa muito pela identidade e diversidade cultural, ainda em construção. Estamos a dar os primeiros passos na consolidação dessa identidade cultural", sustentou o autor, natural de Cailaco, no distrito de Bobonaro, onde nasceu a 08 de dezembro de 1958.
"Estamos a começar. São 40 anos, em que parte deles foi vivido durante o tempo da resistência, o que não permitiu às pessoas com arte e engenho ter disponibilidade para escrever, pois muitas delas foram dizimadas", salientou, realçando que as portas estão abertas para que tal aconteça.
Salientando que a experiência dos outros países lusófonos irá ajudar Timor-Leste nessa tarefa, Luís Cardoso, que não pensa, para já regressar definitivamente a Timor-Leste por razões familiares e de saúde, insistiu na ideia de que o país é ainda "uma criança", que necessita de tempo para crescer.
"Estamos a escrever. Cada um tomou as suas notas, foi buscá-las ao baú das memórias. Acredito que, em breve, possam aparecer aqui para o público, livros, histórias, memórias de timorenses sobre este tempo de luta", disse, lembrando Xanana Gusmão ou de Taur Matan Ruak, cujos depoimentos serão "importantíssimos".
Para o autor de "O Ano em que Pigafetta Completou a Circum-Navegação" (2013), a elite timorense "ainda está a ocupar o tempo" na política, na educação, nas universidades ou nas empresas, necessitando de se esperar mais um pouco para que tenha disponibilidade para refletir sobre o passado, embora também já exista uma nova geração que está interessada em escrever sobre o país.
Segundo Luís Cardoso, que recusa o epíteto de "referência" da literatura" timorense, há muitos jovens que estão a começar a escrever, tanto em português como em tétum, a quem falta um pouco mais de divulgação por parte da comunicação social local, lusófona e internacional.
A língua portuguesa, acrescentou, está a implantar-se aos poucos, sobretudo entre os jovens, em Timor-Leste - "há muita gente que fala muito bem o português e tem muito orgulho nisso" -, fruto da cooperação a esse nível entre Lisboa e Díli, mas o caminho ainda é longo.
"Provavelmente, não iremos falar o português de Portugal, mas o português de Timor-Leste, com todas as nuances que tem o imaginário timorense. Por exemplo, «boca do mar», em tétum, é «praia» em português. Porque não transmitir essas metáforas todas para a Língua Portuguesa? Em vez de dizer «vou à praia» porque não «vou à boca do mar». É muito mais doce", exemplificou.
"Será uma espécie de língua franca. O português falado, não o escrito, será sempre uma língua franca em Timor-Leste. Temos um compasso, uma respiração, uma maneira diferente de dizer e utilizar as palavras da de um português", sublinhou.
Luís Cardoso considerou que seria "sempre um mau ministro em qualquer parte do mundo" e que recusaria um qualquer cargo governamental na área da cultura, disse, "por uma questão de identidade pessoal", optando por se manter como escritor enquanto a crítica literária for boa.
O autor iniciou os estudos em Timor-Leste e completou-os em Portugal após o 25 de abril de 1974, não tendo presenciado a guerra civil e a invasão e ocupação indonésias, e formou-se em Silvicultura no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa.
Além de "O Ano em que Pigafetta Completou a Circum-Navegação", Luís Cardoso é autor de "Crónica de uma Travessia" (1997), "Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo" (2001), "A Última Morte do Coronel Santiago" (2003) e de "Requiem para o Navegador Solitário" (2007).
SAPO TL com Lusa