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Ex-ministro Rogério Lobato diz ter sido usado em 2006 como "bode expiatório"

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Díli, 21 nov (Lusa) - O ex-ministro do Interior timorense Rogério Lobato diz que foi usado como "bode expiatório", quando foi condenado em 2006 por armar civis, insistindo em entrevista à Lusa que só atuou para defender um Governo democraticamente eleito.

Em entrevista à Lusa, Lobato analisou a situação que se viveu em 2006 que colocou de um lado o então primeiro-ministro, Mari Alkatiri e ele próprio e do outro o Presidente Xanana Gusmão.

"Eu como Ministro do Interior e com a lei subsidiária da Indonésia - que na altura estava em vigor -, dava-me esses poderes e eu estava a defender um Governo democraticamente eleito. Portanto, eu tinha esses poderes, para armar", afirmou.

"Fui condenado, porque interessava às Nações Unidas encontrar um bode expiatório, porque o representante da ONU que esteve cá, não foi um indivíduo equilibrado, foi um indivíduo que fez o jogo de uma parte contra a outra, não esteve no meio a servir de ponte", acusou ainda.

Rejeitando que Timor-Leste tenha estado à beira da guerra civil, Lobato diz que a situação que se viveu na altura - que acabou com a queda do Governo liderado por Mari Alkatiri e pela Fretilin - foi "maquinação que veio de fora".

"É pena, é triste aquilo que se passou", afirmou, considerando que o conflito demonstra que "o diálogo é o único caminho" para os timorenses se entenderem e para evitar mais problemas no futuro.

Hoje, disse, "Mari Alkatiri e Xanana Gusmão estão numa coabitação que eu considero exemplar, embora alguns não gostem. Inclusive, dentro da Fretilin [Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente]" com ambos a "chegarem à conclusão que é melhor entenderem-se, coabitarem, do que entrarem em jogos de palavras".

"Nós aprendemos essa lição e estamos juntos, felizmente e espero que essa coabitação dure no tempo. A coabitação entre as duas partes como a única arma para Timor travar as interferências exteriores", afirmou.

No momento em que Timor-Leste celebra 40 anos da proclamação unilateral da independência - Lobato diz que a independência política pode estar conquistada mas falta ainda "a independência económica" e um "Estado como instituição a funcionar no seu pleno, com leis a funcionar no seu pleno".

"A lei é soberana, ninguém pode estar acima da lei. Penso que nós ainda estamos muito aquém. Ainda há pessoas que pensam que podem estar acima da lei. Isto é um processo que vai levar algum tempo. São as fragilidades de um país que se quer construir, de uma nação nova de um Estado que quer afirmar-se como Estado. Um Estado tem de afirmar-se através da solidificação das suas instituições, de todas as instituições", salientou.

Para Lobato é essencial perseverança para garantir que Timor-Leste "se torna um dia um país onde o Estado de Direito funcionará em pleno".

"O meu irmão já dizia, quando era vivo e no mato, quando fazia a guerrilha, que tinha mais medo da luta pelo desenvolvimento de Timor, do que da luta pela independência e está a confirmar", frisou, referindo-se a Nicolau Lobato, segundo Presidente da República, entre 1977 e 1978.

"Sempre que haja conflito, sempre que haja diferenças, o Estado como uma pessoa de bem deve esgotar os seus recursos para encontrar soluções. Não deve nunca recorrer à violência para poder encontrar soluções", afirmou.

Sobre as suas próprias ambições, diz que quer continuar a servir Timor "não necessariamente como ministro, como presidente" - candidatou-se em 2007 - mas abrindo o caminho para a nova geração.

"Eu não entendo a política só ser alguém como ministro, ou ser alguém como Presidente. Já tenho sido convidado para assumir certas posições políticas e tenho recusado. Penso que já dei o meu contributo politicamente", afirmou.

"Perdi a família toda por Timor. Isso é uma grande contribuição que eu dei por Timor, agora é dar oportunidade aos outros de mostrarem aquilo que valem", concluiu.

ASP // EL

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