Hong Kong, China, 24 set (Lusa) -- A organização Human Rights Watch (HRW) criticou a decisão da FIFA de abrir um processo disciplinar relacionado com incidentes em Hong Kong em que adeptos vaiaram o hino nacional chinês num jogo realizado este mês na qualificação para o Mundial2018.
Num artigo publicado no início da semana pela organização de defesa dos direitos humanos e citado hoje pelo portal Hong Kong Free Press, a investigadora da HRW China Maya Wang relaciona as vaias com os protestos pró-democracia na antiga colónia britânica, afirmando que o descontentamento popular contra a China estendeu-se ao desporto.
"Por que é que a FIFA se haveria de preocupar com as expressões políticas dos adeptos de futebol, desde que sejam pacíficas?", questionou Wang, ao referir-se à decisão do organismo máximo do futebol mundial.
"A lei de Hong Kong e o Direito Internacional protegem a liberdade de expressão pacífica e o direito de participar na política, ainda que Pequim rejeite ambos", justificou.
Segundo Wang, as eventuais penalizações da FIFA contra a Associação de Futebol de Hong Kong (HKFA) -- incluindo multas e jogar num estádio fechado ao público -- são o equivalente no desporto ao estilo preferido de fazer política de Pequim".
A responsável da HRW disse que a FIFA tem durante muito tempo fechado os olhos contra os abusos dos regimes autoritários e "ainda tem de sancionar o Irão por proibir as mulheres nos estádios, e está a permitir governos autoritários como a Rússia e o Qatar de acolherem mundiais de futebol".
"Agora", escreveu a investigadora, "parece que deram um passo à frente, por ativamente darem cobertura aos esforços de Pequim de negarem às pessoas de Hong Kong o direito de expressarem as suas opiniões e de votarem livremente", disse.
A declaração da responsável da HRW China acaba com a questão: "Quem é que vai dar um cartão vermelho à FIFA?".
O caso remonta ao jogo de 08 de setembro em Hong Kong, entre a seleção local e a do Qatar, na qualificação para o Mundial2018, que vai decorrer na Rússia.
Antes do início do jogo, que terminou com vitória do Qatar por 3-2, os adeptos da seleção de Hong Kong assobiaram o hino nacional chinês, e hino oficial de Hong Kong, gritando das bancadas "nós somos Hong Kong".
A HKFA disse na sexta-feira que a FIFA abriu um processo disciplinar contra a associação relacionado com os incidentes no jogo.
Na carta enviada à Associação de Futebol de Hong Kong pela FIFA, o organismo máximo do futebol mundial mostrou preocupação com o arremesso por um adepto de Hong Kong de uma lata de refrigerante para o campo visando o jogador do Qatar com a camisola número 10 e com o facto de adeptos de Hong Kong terem vaiado o hino nacional chinês, segundo o portal Hong Kong Free Press.
A FIFA já tinha avisado a HKFA sobre o comportamento dos adeptos de Hong Kong, que já tinham vaiado o hino chinês nos dois jogos anteriores, realizados em casa, contra o Butão e Maldivas, em junho.
A seleção de Hong Kong está inserida no Grupo C de apuramento para o Campeonato do Mundo de 2018 e ocupa a terceira posição com sete pontos, os mesmos que a China e a dois do líder Qatar.
FV (JMZC/NF) // MP